quarta-feira, 11 de novembro de 2009

CONTEXTO ESTRATIGRÁFICO DAS PEGADAS


As icnofaunas dinossaurianas destas bacias estão inseridas num mesmo contexto estratigráfico-temporal-paleogeográfico, e representam partes de um amplo megatracksite. As similaridades das litofácies dentre os depósitos onde ocorrem as pegadas denotam os mesmos processos tectônicos, climáticos e sedimentares. Os ambientes de sedimentação eram então influenciados pelo desenvolvimento inicial da região Atlântica equatorial, com uma biota endêmica vivendo nas proximidades de rios efêmeros e lagos rasos em condições climáticas quentes (Carvalho 2000a).
Durante o Cretáceo Inferior, predominava um clima quente, havendo provavelmente uma ampla variação das condições de umidade (Petri, 1998). De acordo com Petri (1983) e Lima (1983) no início do Cretáceo, as condições climáticas eram mais úmidas nas regiões localizadas à sul do domínio tropical (bacias de Recôncavo-Tucano-Jatobá). Apesar de um clima mais quente e seco em direção à norte, a interpretação dos ambientes deposicionais e os fósseis sugerem a existência de alguns lagos, nos quais durante o Neocomiano, as regiões adjacentes mostravam-se mais úmidas. Durante este tempo, a América do Sul ainda encontrava-se conectada à África, e o Oceano Altântico estava em sua fase inicial de desenvolvimento. Na atual região Nordeste do Brasil, numa área de centenas de quilômetros, rios efêmeros e lagos rasos foram importantes ecossistemas.
A bacia de Sousa compreende uma área de 1.250 km2. Já Uiraúna-Brejo das Freiras é uma bacia menor com 480 km2. Estão localizadas no oeste do estado da Paraíba, nos municípios de Sousa, Uiraúna, Poço, Brejo das Freiras, Triunfo e Santa Helena. O embasamento destas bacias é composto por rochas metamórficas pré-cambrianas altamente metamorfizadas, alinhadas estruturalmente nas direções noroeste-sudoeste ou este-oeste. As rochas mais frequentes são migmatitos, granitos, gabros e anfibolitos.
A subdivisão litoestratigráfica formal dos depósitos cretácicos das bacias de Sousa e Uiraúna-Brejo das Freiras foi proposta por Mabesoone (1972) e Mabesoone & Campanha (1974). Estes autores designaram o Grupo Rio do Peixe, com espessura total de 2.870 metros, subdividindo-o nas formações Antenor Navarro, Sousa e Piranhas. As formações Antenor Navarro e Piranhas, são compostas por sedimentos imaturos, incluindo brechas e conglomerados com seixos de rochas magmáticas e metamórficas em uma matriz grossa arcoseana. Estes tipos litológicos são encontrados próximos aos bordos falhados das bacias. Em direção ao depocentro, os conglomerados e arenitos finos podem estar intercalados com siltitos e folhelhos. Estratificações cruzadas acanaladas e tabulares, estratificações cruzadas cavalgantes e marcas de onda são as principais estruturas sedimentares. A Formação Sousa é composta por arenitos avermelhados, siltitos, argilitos e nódulos carbonáticos; margas também podem ocorrer sob a forma de delgados estratos. As principais estruturas sedimentares são gretas de ressecamento, estruturas convolutas, marcas de onda, estratificações cruzadas cavalgantes, marcas de gotas de chuva e bioturbações.
Nas formações Antenor Navarro e Piranhas as pegadas são menos frequentes, quando comparadas com a abundância em que ocorrem na Formação Sousa. As litologias destas duas primeiras unidades são conglomerados, arenitos grossos e arenitos intercalados com siltitos. As litofácies, estruturas sedimentares e geometria das camadas indicam uma sedimentação em fan-deltas, leques aluviais e ambientes fluviais entrelaçados. As pegadas estão preservadas em sedimentos mais finos das barras arenosas subaéreas dos leques aluviais e rios entrelaçados ( Figura2 ). Tais depósitos localizam-se próximo das bordas das bacias e sua acumulação foi controlada diretamente pela atividade tectônica regional (Carvalho 2000a).
Na Formação Sousa as litologias são arenitos, folhelhos e argilitos, cuja granulação fina foi mais susceptível para a preservação de pegadas. Trata-se de uma sucessão essencialmente microclástica que indica ambientes lacustres, pantanosos e de rios meandrantes. Através do estudo das conchostracofaunas, Carvalho & Carvalho (1990) e Carvalho (1993, 1996b) inferiram as condições físicas e químicas dos lagos em cujas bordas a dinoturbação foi significativa. Tratavam-se de lagos pequenos e temporários, quentes e rasos, nos quais o quimismo da água caracterizavam-nos com um caráter alcalino (pH entre 7 e 9). Devido as dimensões que alcançavam alguns conchostráceos (cerca de 3,5 cm de comprimento), deveriam ter existido nestes lagos optimum ecológicos, com águas ricas em nutrientes e íons abundantes tais como o cálcio e fósforo.

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